JOGO DA AMARELINHA,2023 arte contemporânea
Estes trabalhos tratam de dualidades, ambiguidades e ambivalências. Como sugere o título , enredam um jogo perceptivo, quiçá uma reflexão filosófica. Eu me interesso muito pelo trânsito na dualidade das coisas do mundo, os contrastes e as contradições e meu trabalho acaba sendo um reflexo desses interesses.
Esta é uma série que comecei depois de ter passado alguns dias em Ilhabela onde descobri que existe um outro Jabaquara, além do bairro paulistano ao qual sempre associei o nome, Jabaquara. Descobri que além da estação de metrô, que já norteou muitas andanças pela cidade de São Paulo, existe um lugar paradisíaco de mesmo nome, a praia do Jabaquara.
Nos trabalhos que proponho, começo por sondar um sentimento, que não é só meu, de um dilema da relação com a cidade: daquele sentir-se impelido a ir embora, mas não ir. Será que vou? Será que fico? Essa relação que não se resolve, esse pêndulo que balança aqui e ali pode se colocar como palco para reflexões de outras dicotomias. A maritaca e o bate-estaca, o sabia e o motoboy que sobe a ladeira, o metrô e o mar, construção e destruição. Um permanecer, um lugar de fuga, um respiro em meio ao caos. Um exercício Yin/Yang: onde há um, há também o oposto. Como diria Cortazar “De que adianta um sim sem um não?”
Formalmente esse jogo se coloca entre o preto/branco e o amarelo, cor que remete às faixas sinalizadoras, que podem tanto ser usadas como condutora de fluxos, assim como limitadoras de espaços. Nos trabalhos em preto e branco, o amarelo insinua símbolos de cotagem arquitetônica, como se fossem presságios: algo aqui está na iminência de se transformar, de ser construído no mesmo lugar. O amarelo também ecoa do romance “O Jogo da Amarelinha” de Júlio Cortazar. Não apenas pela cor, mas também por sua estrutura incomum, ressoando também a ideia dos capítulos prescindíveis do mesmo. Assim apresentam-se duas potenciais narrativas, uma narrativa em preto e branco e outra em amarelo. Dualidades se colocam também como espaço de relação entre linguagens como o desenho e a pintura, o figurativo e o abstrato, imagem e a palavra , presente dos títulos. Para estes últimos, tenho usado frases e palavras recolhidas de publicidades de empreendimentos imobiliários como títulos. São palavras que prometem, atraem e evocam uma intimidade : “nossa história se transforma a partir da sua”. Aqui se colocam novas dicotomias: o real e o imaginado, o sentido e o vendido.